A importância da liderança para o engajamento no trabalho

A perenidade de estruturas e resultados organizacionais depende primeiramente e essencialmente do envolvimento das pessoas com o trabalho que realizam. Afinal, como destaca Harper (2016, p. 14, tradução nossa): “Uma organização não tem um corpo visível, pelo menos fora dos membros individuais que são parte dela”. 

Entre os aspectos que mobilizam esse envolvimento, destaca-se o papel das lideranças, que precisam estar comprometidas com os objetivos e as práticas empresariais e ao mesmo tempo devem mobilizar o comprometimento dos outros indivíduos de maneira que eles estejam de fato engajados com os papeis que realizam. 

Compreendendo esse cenário, o artigo tem como objetivo destacar a importância de ações e intervenções da liderança para fortalecer o engajamento no dia a dia de trabalho, realizando para isso uma pesquisa bibliográfica exploratória em artigos, livros e outros materiais acadêmicos e conectando as fontes consultadas com a bagagem profissional adquirida ao longo dos anos.

A linha de raciocínio delineada para o texto contempla inicialmente visões mais gerais sobre conexões entre as dimensões-chave enfocadas no conteúdo – liderança e engajamento – e na sequência pontua algumas possibilidades de ação para potencializar os resultados dessas dimensões no ambiente de trabalho.

Arellano e Limongi-França (2002, p. 259) compreendem a liderança como “um processo social no qual se estabelecem relações de influência entre pessoas”.

 Tais relações, por sua vez, devem estar alinhadas com os objetivos organizacionais e as atribuições individuais e coletivas dos que fazem parte de uma empresa para propiciar a sustentabilidade e o desenvolvimento do negócio.  

Porém, a manutenção desse alinhamento não ocorre de forma simples, automática e padronizada, tendo em vista a mutabilidade dos objetivos e das atribuições no dia a dia em cada cenário; a diversidade de perfis, necessidades e comportamentos entre as pessoas que integram a organização; bem como variáveis contextuais econômicas, sociais, políticas, tecnológicas e outras questões externas que impactam o negócio. Por isso, a reflexão e o aprimoramento das práticas de liderança deve ser um exercício diário. 

Da mesma forma que ocorre com a temática da liderança, não existe uma receita universal para garantir o engajamento de cada ser humano com o trabalho que realiza.  Porém, é importante conhecer abordagens e modelos que podem impactar na abertura, disponibilidade e disposição para o desempenho das atividades.

Uma dessas abordagens considera que o engajamento no trabalho “é caracterizado por energia, envolvimento e eficácia (opostos diretos das dimensões de exaustão, cinismo e ineficácia que caracterizam o esgotamento)” (Moreira et al, 2022, p. 162). 

Quanto à oposição entre engajamento e esgotamento, é válido adicionalmente distinguir o envolvimento e a dedicação saudável com a realização das atividades, e, por outro lado, a sobrecarga de responsabilidades, cobranças e tarefas que traz malefícios à saúde e ao bem-estar.

Além disso, outra contribuição destaca que o engajamento “consiste em um estado mental onde o profissional encontra-se imerso e entusiasmado em suas atividades laborais” sendo uma “condição desejável que favorece o desempenho individual e coletivo de equipes em suas rotinas de trabalho” (Figueiredo et al., 2021, p. 10) e que vai além da satisfação pontual de trabalhar em uma ou outra atividade.

Essas perspectivas evidenciam, entre outras questões, o caráter multidimensional do engajamento, que tanto mobiliza sensações e resultados positivos no dia a dia quanto também precisa ser encarado com responsabilidade pensando na saúde dos profissionais. 

Para contribuir com um olhar consciente sobre o tema, especialistas destacaram seis áreas do dia a dia profissional que, conforme a maneira com que são trabalhadas, podem potencializar o engajamento ou gerar esgotamento: “carga de trabalho, controle, recompensas e reconhecimento, apoio comunitário e social, justiça percebida e valores” (Leiter; Maslach, 1999, citado por Moreira et al, 2022). 

Na sequência, então, realiza-se o exercício de apresentar aspectos a serem considerados sobre cada um desses itens a partir do enfoque da liderança.

Em relação à carga de trabalho, é importante que ela seja sustentável. Para isso, os líderes devem avaliar continuamente o volume de atividades pensando no cenário da empresa, os desafios que podem ser estimulados tendo em vista as condições e competências de cada profissional, e também os impactos negativos de sobrecargas para a saúde e o próprio rendimento. Adicionalmente, convém estabelecer conversas abertas e transparentes para verificar e validar as percepções sobre o volume de demandas.

No que tange ao controle sobre o trabalho, trata-se de manter um equilíbrio entre o estabelecimento de diretrizes e regras para o bom funcionamento dos processos e a consolidação de relações interpessoais pautadas na confiança e no estímulo da autonomia para que as atividades sejam sim entregues dentro dos parâmetros necessários, porém com leveza e capacidade de melhoria e inovação ao longo da jornada. 

Pensando sobre recompensas e reconhecimento, destaca-se a necessidade de os líderes manterem a postura de comemorar os resultados e as conquistas de cada pessoa como forma de estimular o alcance de outros objetivos.  Isso pode ser feito não apenas com recompensas financeiras e materiais, mas também com a prática contínua de encontros para feedbacks positivos, mensagens, reconhecimentos públicos, além do oferecimento de oportunidades de desenvolvimento como a realização de um curso, por exemplo. 

Em relação ao apoio comunitário e social, compreende-se que ele diz respeito ao estabelecimento de uma cultura de trabalho pautada no compartilhamento, no apoio mútuo e na colaboração para o alcance de objetivos individuais e coletivos e a superação de dificuldades. Para reforçar esse compromisso, sugere-se que os líderes da organização mantenham como parte da rotina práticas que envolvam espaços para as pessoas realizarem pedidos a partir de demandas que possuem e colocarem ofertas tendo em vista as competências pessoas e os interesses e necessidades observados no grupo. 

Refletindo sobre o sentido de justiça percebida, tal cuidado envolve a sensação que cada indivíduo deve ter sobre haver uma equivalência entre os esforços e as entregas que ele realiza no dia a dia e as contrapartidas e benefícios obtidos a partir disso. Para fortalecer esse aspecto, é essencial manter conversas, avaliações e reflexões constantes avaliando o contexto de forma responsável e embasada, e zelando sempre pela transparência e empatia. 

Por fim, pensando sobre a questão dos valores, ressalta-se especialmente que os líderes precisam espelhar em seus comportamentos os princípios da organização, identificando formas de reforçar a conexão entre esses princípios, as atividades da rotina e as possibilidades de transformação, impacto positivo e resultado oriundas de uma conduta pautada em valores. 

O artigo teve como objetivo destacar a importância de ações e intervenções da liderança para fortalecer o engajamento no dia a dia de trabalho.

Para isso, buscou estabelecer conexões entre as temáticas-chave à luz de trabalhos acadêmicos analisados tendo como recorte pontos vivenciados na atuação junto ao universo organizacional. 

As reflexões realizadas ressaltam o papel de influência que os líderes possuem para o engajamento no trabalho tendo em vista aspectos como: a conduta que cultivam – que acaba servindo como exemplo, a maneira como conduzem as relações interpessoais – reconhecendo as particularidades, os esforços e as necessidades de cada pessoa, e o compromisso que possuem com a colaboração, a justiça e a manutenção de valores da empresa. 

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